quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Origem de Dias D’Ávila


Desde o século XVII, já constava dos velhos alfarrábios dos padres jesuítas, guardados a sete chaves pelos prepostos da ordem, que o “sitio onde se situava o arraial do Capuame – que fazia parte do maior latifúndio do Brasil, a Casa da Torre, herança de Garcia D’Ávila que veio de Portugal com a comitiva de Tomé de Souza – era excelente pela qualidade de suas águas, de grande valia para cura de certas moléstias e como local de descanso para refazer o corpo e o espírito”.
Com o passar do tempo, as paragens do Capuame se tornaram importante entreposto de gado, que abasteciam os currais de Itapagipe, na capital baiana. Nesta época era conhecida por Feira Velha do Capuame. Durante a guerra da Independência teve relevante papel no fornecimento de gado para as tropas brasileiras, já que Salvador, nas mãos de Madeira de Melo, não permitia que os suprimentos chegassem até o exército separatista. Também é deste tempo a figura de Santos Titara, nascido por estas plagas e que se destacou como um dos heróis da independência. Ele foi o autor do “Hino ao Dois de Julho”, até hoje, um dos símbolos da vitória brasileira contra o jugo português.
Em 1927, por iniciativa do deputado Ademário Pinheiro, e sugestão do historiador Francisco Borges de Barros, a Feira Velha passa a chamar-se Dias D’Ávila, em homenagem a Francisco Dias D’Ávila II, o destemido bandeirante que ampliou os limites do latifúndio da Torre, embrenhando-se pelas matas até o atual estado do Piauí, capturando índios e anexando terras para a sesmaria dos D’Ávila.
Na década de 40, o padre jesuíta francês, Camilo Torrend, eminente botânico e estudioso dos campos de Dias D’Ávila, tendo acesso a documentos antigos da ordem, mandou analisar a água e a lama do rio Imbassay, em laboratórios franceses, e recebeu um resultado surpreendente: Aquelas águas eram comparáveis à das melhores estâncias européias, com qualidades terapêuticas poderosas e, mais ainda, a lama possuía propriedades medicinais louváveis, principalmente para as moléstias de pele.
A notícia correu alastrando-se com grande velocidade e ganhando as cidades vizinhas e a capital, espalhou-se por toda a Bahia e até mesmo por outros estados. Dias D’Ávila tornou-se uma cidade de veraneio famosa, com chácaras aprazíveis, com belas e arborizadas vivendas aonde as celebridades baianas da época, vinham, obrigatoriamente, beber a saudável água. Na década de 50, dava gosto de se ver, aos domingos, a chegada do trem (que era chamado “Pirulito”) abarrotado de turistas para passar o dia na famosa “estância das águas”. Foi quando surgiu a folclórica figura do aguadeiro que levava o líquido precioso retirado do rio, em lombo de jegues, de porta em porta pela cidade, apregoando e vendendo aquilo que os veranistas vinham buscar na cidade. E no trem, todos regressavam a seus lares carregando garrafas, galões, botijões e outros recipientes com a água que já ganhava o rótulo de “a mais leve do Brasil”.
Na década de 70, com a chegada do Pólo Petroquímico, houve uma afluência enorme de pessoas que vinham de todas as plagas em busca do sonho do emprego. A partir de 1976, Camaçari começou a ter um crescimento acentuado e, sob a regência do capitão engenheiro Humberto Ellery, iniciou obras de expansão do município. Dias d’Ávila, já vinha sendo desfigurada devido ao crescente número de trabalhadores, que se instalavam e transformavam suas belas chácaras em repúblicas; era a cidade dormitório que se aboletava desalojando os antigos moradores.
A partir daí ela começou a perder sua condição privilegiada de estância, ficando abandonada pela sede do município, que já sofria imensos problemas.
Emancipação Política
Com o crescimento decorrente da instalação do Pólo e abandono pela prefeitura de Camaçari que, por já ter suficientes problemas não podia se preocupar com o distrito, começou a se fortalecer em algumas pessoas o sentimento de emancipar a estância, criando a cidade de Dias D’Ávila.
Foi nesta situação que um grupo de idealistas, no final dos anos 70, criou a Sociedade Amigos Dias D’Ávila, com o intuito de trazer melhorias para a população do distrito. As conquistas maiores dessa época foram a vinda da 25ª Delegacia, com prerrogativas semelhantes àquelas de Salvador e a criação do ponto do ônibus para a capital.
O objetivo maior da Sociedade, entretanto, era criar condições econômicas para emancipar o município. Foi preciso muita luta para se chegar a um final feliz. Os limites do município tiveram que ser refeitos.
Hoje muitos criticam os limites, mas, na época, foram estes os possíveis e, também, os que criaram as condições que hoje nos asseguram uma sólida posição econômica dentre os quatrocentos e tantos municípios baianos. Muitas idas ao Governador do Estado e seus secretários, muitos pedidos e muito mais negativas do que aquiescências às reivindicações. Dentre os amigos dedicados que se empenharam, desde o princípio, nesta luta formidável destacamos, para que a história lhes dê o reconhecimento que merecem, os seguintes: Dr. Mozart Pedroza, Profª. Altair da Costa Lima (falecida), Profª. Laura Folly, Dr. Ezequildes Nunes, Deputado Clodoaldo Campos (falecido), Gilson Galvão de Souza, Lucas Evangelista dos Santos, Fernando Gimeno, Flávio Cavalcante de Oliveira, Mário Padre (falecido), José Osmar Muricy, Dep. Nestor Duarte, Dr Raimundo Brito (na época presidente da Caraíba Metais), Beth Gimeno e Osmar de Andrade. Muitos outros chegaram depois, e com muito denodo lutaram pela emancipação como se desde o inicio lá se encontrassem. Dentre outros temos: Carlos Augusto Deiró, Domingos Azevedo (Dó), Serrador, Zezito, Hélio Pozzi, Moacyr Duarte, Augusto Guiotti, Prof. Leite, Edmundo Magalhães e vários outros que, por extensa lista, não conseguimos recordar
Com a inclusão da Caraíba Metais nos limites do novo município, foram criadas as condições econômicas para se atingir o objetivo e no dia 25 de junho de 1984, era publicada a lei que ratificava os limites e criava o município de Dias D’Ávila. A partir daí, estava, definitivamente, deflagrado o processo da emancipação. O plebiscito foi marcado para o dia 25 de novembro, daquele ano de 84. Dias D’Ávila possuía, então, três mil e quinhentos eleitores, grande parte não residente ou falecido, pois a maior parte dos residentes era oriunda de outros estados e não tinham, ainda, título transferido. No dia do evento, a prefeitura de Camaçari colocou ônibus gratuitos para as praias do litoral, pois era necessário um mínimo de 50 % dos eleitores votantes. Foi lindo ver-se as pessoas da cidade mobilizadas para trazer eleitores para a votação. Doentes trazidos em cadeiras, gente que tomava banho nos rios. Serrador afirma que rodou mais de mil quilômetros só dentro do município. O quorum se deu com pouco mais de cinqüenta votos e quando foi concluída a apuração – logo após o pleito – verificou-se que, apenas dezesseis pessoas haviam votado contra. No dia 25 de fevereiro de 1985, foi, finalmente, publicada a Lei que elevava o distrito de Dias D’Ávila à condição de cidade. A Sociedade Amigos de Dias D’Ávila ainda conseguiu mais uma vitória: Incluiu o novo município, com a ajuda do desembargador Mário Albiani, na reforma judiciária, em dezembro de 84, criando a Comarca de Dias D’Ávila. Assim, o município que só foi emancipado em fevereiro de 85, já era comarca desde dezembro, criando um fato único na história de nossa terra.

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